Carta a um vencido
Passada as eleições, estava com um artigo quase pronto sobre o pleito de cinco de outubro, quando saiu vitorioso, na cidade de Cajazeiras, o candidato da coligação “Cajazeiras Melhor”, médico Léo Abreu e os dez vereadores. Mas relendo os meus arquivos sobre disputas eleitorais encontrei um artigo escrito pelo grande tribuno paraibano Alcides Carneiro sobre os vencidos. Ao invés de falar sobre os vencedores, faço minhas as palavras de Alcides.
Nobre e desolado companheiro:
Acabo de ter conhecimento, meu caro colega, da delicada situação em que ficaste, das dívidas que contraíste, à espera de que o teu "tostão" realizasse o milagre de suplantar o "milhão" dos teus competidores. Bem sei que estes foram os teus amigos mais íntimos, os teus comensais, os teus companheiros de todas as horas, os teus próprios parentes.
Tiraram-te os votos e agora tiram-te o sossego e até a saúde preciosa. Feriram e esvaziaram cruelmente a tua alma, que é tão boa. Estou informado de que, desde que a apuração se revelou adversa, estás preso ao leito, fígado, nervos e alma igualmente enfermos. Mas sempre ouvi dizer que o amigo bom é o que faz o outro chorar. Esta é, decerto, a maior razão de tua mágoa. Não é a derrota em si que te abate. Não é o insucesso que te deprime. É a desilusão dos velhos afetos, numa idade em que já não se pode esperar que os afetos novos envelheçam.
O mal que te aflige não desdoura, antes enobrece, porque mostra não uma vaidade ferida, mas uma imensa sensibilidade em revolta. Teu sofrimento é um sinal de grandeza. Um espírito que decepciona tão fundamente com as felonias é um espírito que deve ser salvo, porque mais não fez do que julgar os outros por si, e enganar-se.
E agora? Que pretendes fazer? Quero dar-te um conselho que não é meu, que, se bem me lembro, de Guizot "Devemos perdoar tudo e nada esquecer". Vou além: devemos perdoar tudo e esquecer tudo.
O perdão sem o esquecimento, é a transigência desastrosa dos ressentidos. Perdoar é esquecer e continuar a lutar por este País, que nada tem a ver com nossas derrotas, nossas mágoas, nossos ressentimentos. Se cada um deixar se arrasar pela depressão e omitir-se, estará bem próximo o reino dos inconscientes, o paraíso dos aventureiros.
Não perdeste, meu caro amigo. Apenas cedeste jardas de um terreno que cedo reconquistarás. Caminha. Os horizontes te convidam. Hás de responder que eu falo assim porque meu caso é diferente. Porque desconheço a extensão do teu insucesso. Estás enganado. Fui ferido pelo mesmo ferro que te feriu, na mesma região, com o mesmo requinte perverso. Mas reajo, fazendo das fraquezas, forças.
Nesta hora reconheço que há um pouco de egoísmo no meu gesto. Não te ofereço de graça o meu ombro, para que nele te encostes para chorar.
Procuro o teu, para fazer o mesmo. Não me consolo com a desgraça dos outros. Mas, "a própria dor dói menos" quando há identidade e solidariedade no sofrimento. Ou querias que eu suportasse sozinho?
Esta carta do famoso tribuno paraibano Alcides Carneiro, conhecida por seu valor literário, humano e político, foi publicada no Diário Carioca em 1950 e teria sido dirigida a Argemiro de Figueiredo ou a José Américo de Almeida. Passados 58 anos, sua atualidade causa a todos profunda admiração.
Aos vencedores
Nada mais emocionante do que a vitória. Aos vitoriosos os nossos parabéns, nas pessoas do médico Léo Abreu, do acadêmico de Direito Carlos Rafael e dos vereadores Marcos Barros, Marcos do Riacho do Meio, Lea Silva, Nilsinho, Lopão, Moacir Meneses, Deuzinho, Severino Dantas, Chico de Bianor e Humberto Pessoa. E esperamos que façam desta importante outorga confiada pelo povo de Cajazeiras, para durante quatro anos, através dos poderes executivo e legislativo, servirem ao povo desta terra.
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